Ética é o conjunto de valores, ou padrões, a partir dos quais uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões. A ética é importante por que respeita os outros e a dignidade humana.

Quinta-feira, 19 de Abril de 2012
Dicionário dos Alimentos - TREMOÇO
Tremoço, um campeão de consumo em todas as esplanadas. É interessante descobrir que o actual “marisco dos pobres”, foi outrora alimento indispensável nas mesas mais abastadas e simbolizava o dinheiro nas antigas comédias romanas.

Continuando na senda histórica, as propriedades nutricionais do tremoço são explicáveis à luz do desespero de Maria, mãe de Jesus, que quando fugia das tropas de Herodes, perante o barulho denunciador causado pelo tremoço dentro da vagem, lhes rogou a maldição de que o fruto daquele tremoceiro não mataria a fome a ninguém por mais que o comessem.

De facto, o tremoço, à semelhança de outras leguminosas, é muito pouco calórico (um pires possui cerca de 70 kcal), no entanto no que diz respeito ao seu efeito na saciedade a conversa já é outra pois o tremoço possui 17 por cento de proteínas e cinco por cento de fibra, os nutrimentos com maior contribuição a este nível.

Apesar de ser um alimento de origem vegetal, as proteínas do tremoço são de elevada qualidade e digestibilidade com um perfil semelhante à proteína da soja, sendo que a sua combinação com cereais consegue aportar à nossa alimentação todos os aminoácidos essenciais.

Para além deste perfil adequado, existe igualmente uma proteína específica do tremoço que possui propriedades fungicidas e não tem toxicidade para a espécie humana. Esta descoberta efectuada no nosso país abre portas à sua utilização na agricultura biológica, estufas, campos de golfe, entre outros.

Voltando às propriedades nutricionais, o tremoço é muito pobre em gordura e a pouca existente é maioritariamente mono e polinsaturada. Relativamente à sua composição vitamínica e mineral, destacam-se no tremoço quantidades substanciais de ácido fólico, ferro e zinco, sendo que estes dois últimos não abundam em alimentos de origem vegetal. O ponto mais negativo relativo ao tremoço é a excessiva quantidade de sódio que não está presente naturalmente no alimento, mas decorre do sal adicionado depois da cozedura.

Em suma, o tremoço é um excelente alimento de Verão, pouco calórico, altamente saciante e com efeitos benéficos ao nível do funcionamento intestinal, controlo glicémico e diminuição do colesterol. Ainda persiste a ideia que é alimento de pobre?

Pedro Carvalho, nutricionista
Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto


publicado por Maluvfx às 09:11
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Dicionário dos Alimentos - ROMÃ
A chegada da romã é um acontecimento que marca indubitavelmente a passagem da época estival para o Outono. Sob várias perspectivas, este é um fruto verdadeiramente especial: a romã tem história, beleza e grande traz muita saúde.

A romã tem história. Para os iranianos, Eva foi traída não por uma maçã mas sim por uma romã. Um pouco mais a norte, o seu número excessivo de sementes e cor fazem com que os gregos ainda hoje mantenham a tradição de abrir uma romã nos casamentos para atrair a fertilidade.

A romã tem beleza. É uma preciosidade da natureza a envolvência de numerosas sementes carnudas de cor vermelha numa casca com epílogo em forma de coroa.

A romã tem saúde. É muito provavelmente o fruto com maior potencial “medicinal” comprovado. Neste contexto, o seu elevado teor em polifenóis impede o “mau” colesterol (LDL) de ser oxidado, sendo que é esta oxidação a responsável pela formação das placas ateroscleróticas que podem causar trombos indesejáveis. Esta capacidade de “limpeza” dos vasos sanguíneos demonstrou igualmente efeitos na melhoria da quantidade de oxigénio captada pelo músculo cardíaco de pacientes com doença coronária e também um potencial benefício no combate à disfunção eréctil.

A sua tremenda capacidade antioxidante (quase 3 vezes superior à do vinho tinto e chá verde) tem revelado resultados promissores quer na prevenção de alguns cancros (próstata e mama) quer na diminuição da inflamação característica da artrite e consequente atenuação da sua sintomatologia.

Foi relatado em alguns estudos uma interacção entre a romã (mais propriamente o sumo de romã) e alguns anticoagulantes. Apesar de muito remota e da escassa evidência desta associação, o mais recomendável é consultar o seu médico se estiver a tomar este tipo de medicação, antes de ingerir este precioso fruto.

As características nutricionais da romã são concordantes com o seu potencial terapêutico, dado que para além da sua riqueza em vitaminas e minerais e baixo valor calórico, algo que é inerente à grande maioria dos frutos, a romã exibe uma quantidade assinalável de fibra que a distingue dos seus similares.

Deste modo, aproveite esta dádiva da natureza nestes meses e entre no Outono da melhor forma!

Por Pedro Carvalho, nutricionista
Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto


publicado por Maluvfx às 09:09
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Dicionário dos Alimentos - MAÇÃ
Ainda hoje se coloca a dúvida se a maçã foi de facto, o fruto proibido. Mas de uma coisa temos a certeza: a maçã é inimiga de alguns tipos de cancro, doença cardiovascular, asma e diabetes, uma vez que reduz o risco de todas estas patologias.

Já no século XIX, muito antes de existirem tabelas de composição nutricional de alimentos, era célebre o ditado “an apple a day, keeps the doctor away”. A maçã consegue o feito de desafiar as “leis da gravidade” que ajudou a construir, ao ser extremamente rica em compostos antioxidantes mesmo sem possuir as cores tão exóticas de outros frutos muito associados (e geralmente bem) a esta capacidade de defesa do nosso organismo. Aliás é mesmo a parda maçã reineta, desprovida de todo aquele verde e vermelho vivo, que exibe um padrão mais interessante na conjugação de fibra, vitamina C e actividade antioxidante entre todas as variedades de maçã. E existe ainda uma vantagem adicional da maçã em relação a alguns destes frutos exóticos: é muito nossa! Nenhum outro fruto fresco em Portugal se pode orgulhar de ostentar cinco zonas com Denominação de Origem Protegida ou Indicação Geográfica Protegida. Apesar de a nível mediático, a maçã de Alcobaça ser a porta-estandarte da maçã portuguesa, também as da Beira Alta, Cova da Beira, Portalegre e Bravo de Esmolfe possuem a sua qualidade reconhecida e protegida.

Quiçá pela sua intrínseca ligação bíblica, a maçã transporta consigo o dom da multiplicação no que a alguns nutrimentos diz respeito. Mesmo não sendo particularmente rica em vitamina C (7mg por 100g), a sua actividade antioxidante é equivalente a 1500mg desta vitamina, resultado das sinergias efetuadas pelos seus inúmeros compostos fenólicos e flavonóides. A maior concentração destes compostos na casca da maçã faz com que a actividade antioxidante desta, seja cinco vezes superior à da polpa. Daí ser quase um crime nutricional a ingestão de maçãs sem casca até porque, com a produção integrada e livre de pesticidas, a maior desculpa para quem a retirava deixa de ser válida.

Também de fibras solúveis se escreve a história nutricional da maçã, sendo estas as responsáveis pela sua fama na diminuição dos níveis de colesterol e regulação do apetite.

A maçã constitui-se assim como uma boa amiga da nossa alimentação. Por mais que experimentemos novos e mais sofisticados alimentos, ela vai estar sempre lá. E ainda bem!

Por Pedro Carvalho, nutricionista
Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto


publicado por Maluvfx às 09:06
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Dicionário dos Alimentos - FEIJÃO VERDE
Feijão VerdeO Feijão Verde pertence à mesma família dos feijões de casca, como o feijão manteiga, feijão branco ou feijão preto. Mas ao contrário dos seus primos, todo o conteúdo, da vagem à semente, pode ser consumido. O feijão verde apresenta uma grande gama de dimensões, mas normalmente mede cerca de 10 cm de comprimento. Normalmente, tem uma bonita cor verde esmeralda, com um registo cromático mais claro em cada ponta. Contendo no interior da casca pequenas sementes de casca fina, esta variedade de feijão conheceu grande reputação devido à frescura, sabor e doçura da própria casca.

O nome científico do feijão verde é Phaseolus Vulgaris.

Tabela Nutricional

125 GRS / 43.80 CALORIAS                

NUTRIENTES
QUANT.
DDR (%)
DENSIDADE DO NUTRIENTE
CLASS.
VITAMINA K
20.00 mcg
25.0
10.3
excelente
VITAMINA C
12.13 mg
20.2
8.3
excelente
MANGANÉSIO
0.37 mg
18.5
7.6
excelente
VITAMINA A
832.50 IU
16.6
6.9
muito bom
FIBRAS
4.00 g
16.0
6.6
muito bom
POTÁSSIO
373.75 mg
10.7
4.4
muito bom
FOLATOS
41.63 mcg
10.4
4.3
muito bom
TRIPTOFANOS
0.03 g
9.4
3.9
muito bom
FERRO
1.60 mg
8.9
3.7
muito bom
MAGNÉSIO
31.25 mg
7.8
3.2
bom
VITAMINA B2 (RIBOFLAVINA)
0.12 mg
7.1
2.9
bom
COBRE
0.13 mg
6.5
2.7
bom
VITAMINA B1 (TIAMINA)
0.09 mg
6.0
2.5
bom
CÁLCIO
57.50 mg
5.8
2.4
bom
FÓSFORO
48.75 mg
4.9
2.0
bom
PROTEÍNAS
2.36 g
4.7
1.9
bom
ÁCIDOS GORDOS (OMEGA 3)
0.11 g
4.6
1.9
bom
VITAMINA B3 (NIACINA)
0.77 mg
3.9
1.6
bom



Benefícios para a saúde:
● Diurético
● Tonifica o Coração
● Hipogliceminate


publicado por Maluvfx às 09:03
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Dicionário dos Alimentos - FEIJÃO
Um dia perguntaram ao intelectual italiano Umberto Eco qual tinha sido para ele o facto mais importante do 2º milénio. Provavelmente o leitor poderá achar que está o ler o texto errado e a perguntar-se o que é que isto tem a ver com o feijão. Pois bem, a resposta de Umberto Eco a esta pergunta foi: “a introdução do feijão na Europa”! E de facto, o feijão juntamente com outras leguminosas como a fava, lentilha e grão tiveram em tempos um papel crucial no combate à desnutrição que se abatia em toda a Europa.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e hoje, é muito provável que a razão pela qual exista um certo preconceito em relação ao feijão, seja essa lembrança de outros tempos com menos recursos em que o feijão foi utilizado como substituto da carne e do peixe. E este preconceito pode-nos sair caro quer no que diz respeito à nossa saúde, quer na manutenção da nossa identidade gastronómica que é algo do qual nos devemos orgulhar e não envergonhar. Com efeito, a feijoada é considerada muitas vezes um prato excessivamente pesado… e ainda bem! Muito do que por vezes entendemos como “pesado” refere-se à capacidade saciante do alimento em causa, e a este nível ninguém bate o feijão. A única maneira de tornarmos uma feijoada pesada em termos nutricionais é a adição de carnes demasiado gordas e enchidos que esses sim, desequilibram um prato que pode traduzir igualmente uma simbiose empírica entre arroz e feijão na procura da complementaridade proteica dos seus constituintes.

O feijão, à semelhança de outras leguminosas desempenha um papel fundamental no controlo do apetite pois para além de ser pouco calórico (cerca de 100kcal por 100gramas) tem uma grande quantidade de proteína e fibra. E são estas mesmas fibras que juntamente com outros fitoquímicos como o ácido fítico, flavonoides e compostos fenólicos, fazem do feijão um super-alimento na temática da prevenção do cancro. Sendo certo que o ácido fítico é responsável pela diminuição da absorção do ferro e cálcio, ele compensa essa menos-valia com uma grande capacidade antioxidante e antimutagénica que em conjunto com a produção de ácidos gordos de cadeia curta resultantes da fermentação da fibra do feijão diminuem o risco de cancro, particularmente o colo-rectal.

Assim, na sopa, na salada, em feijoadas à portuguesa ou brasileira, com marisco, lulas ou búzios, a ingestão de feijão é uma questão de saúde. É difícil encontrar algo que o feijão não tenha. Tem proteínas de elevada qualidade para um alimento de origem vegetal, tem hidratos de carbono de absorção lenta, tem grande quantidade de fibra promotora da saciedade, tem um vasto portfólio micronutricional com ferro, cálcio, zinco, ácido fólico e outras vitaminas do grupo B. Enfim, é daqueles alimentos que justificam o uso do cliché: O feijão tem tudo… Só não tem comparação!

Por Pedro Carvalho, nutricionista
Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto


publicado por Maluvfx às 08:55
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Dicionário dos Alimentos - ESPINAFRE
O espinafre sempre foi um hortícola especial. Tão especial que na época medieval os árabes o elegeram como o “príncipe dos vegetais” e já antes tinha sido constituído como oferenda do Nepal ao imperador chinês em resposta ao seu pedido pelas melhores plantas dos países vizinhos.

O príncipe dos legumes despertou igualmente uma obsessão por parte da duquesa Catarina de Médicis que, ao levar com ela o espinafre e suas receitas desde Florença até à corte francesa, fez com que ainda hoje designemos os pratos servidos em cama de espinafres como “à Florentina”.

E o mundo seria de facto um sítio melhor se todos os hortícolas tivessem tido o apoio de uma estratégia de marketing como o espinafre teve com o Popeye! Apesar de na altura a construção desta personagem e da força que o espinafre lhe dava ter sido feita com base numa sobrestimação da quantidade de ferro deste hortícola, o certo é que o marinheiro mais famoso do mundo conseguiu que o consumo de espinafres crescesse mais de 30% nos EUA e que se tornasse no terceiro alimento mais popular entre as crianças logo depois do peru e dos gelados.

Mesmo não tendo a quantidade de ferro que se chegou a pensar, o espinafre não é totalmente desprovido deste mineral, sendo mais um nutrimento a adicionar aos campeões vitamina A e K, estes sim presentes em força no espinafre. Também de ácido fólico e vitamina C se faz a história nutricional de um hortícola que sempre teve o estigma do seu suposto exagerado teor de nitritos e nitratos derivado da sua produção agrícola intensiva. Um estudo recente, efectuado com amostras de espinafres e outros vegetais portugueses não confirmou esta tendência, sendo que estes compostos em níveis dentro do permitido podem inclusive acarretar benefícios do ponto de vista cardiovascular com a melhoria da função endotelial dos nossos vasos sanguíneos e diminuição da pressão arterial.

E se as cenouras transportam o epíteto de “fazer bem” aos olhos, os espinafres não lhe ficam nada atrás, com níveis elevados de luteína e zeaxantina, dois pigmentos com função antioxidante e um papel muito interessante na prevenção da degeneração macular associada ao envelhecimento e cataratas.

Se a ingestão de espinafres constitui sempre uma boa opção, o seu teor em oxalatos e purinas pode acarretar alguns cuidados a indivíduos com cálculos renais e hiperuricemia. Nada que ofusque todos os seus demais benefícios, particularmente se optarmos pelo seu cozimento a vapor onde, para além de não ser potenciada a perda vitamínica associada ao seu cozimento em água, a sua capacidade de “reciclagem” dos ácidos biliares tem o condão de diminuir os níveis de colesterol sanguíneo.

Deste modo, já que os tempos são outros e o espinafre está longe da popularidade de outrora, há que o soltar o Popeye em cada um de nós e dar o exemplo da ingestão deste e de outros hortícolas aos mais novos.

Por Pedro Carvalho, nutricionista*
*Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto

Sobre os espinafres


publicado por Maluvfx às 06:44
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Dicionário dos Alimentos - DIÓSPIRO
Existem alimentos cujo aparecimento pode ser encarado quase como uma premonição para os tempos futuros. O dióspiro é um deles.

A capacidade de prever o futuro já é associada ao dióspiro desde tempos antigos quando os nativos americanos cortavam as sementes deste fruto de modo longitudinal para prever a gravidade do Inverno que se seguiria, consoante a forma de colher, garfo ou faca existente no interior da mesma.

O dióspiro tem assim um bouquet nutricional feito à medida para nos proteger da diminuição das temperaturas sentida nesta fase ao reforçar o nosso sistema imunitário.

Embora a possua em razoáveis quantidades, não é primordialmente na vitamina C que o diospiro se alicerça quanto ao fortalecimento das nossas defesas, mas sim na sua riqueza em carotenos e na sua capacidade antioxidante. De resto, ao nível dos frutos frescos, apenas a manga e o damasco possuem níveis superiores deste pigmento com uma enorme capacidade de protecção das nossas células dos danos provocados pelos radicais livres.

São estes mesmos beta-carotenos, juntamente com outros potentes compostos fenólicos (idênticos aos encontrados no chá verde e vinho tinto) que fazem do diospiro um super-fruto no que ao seu poder antioxidante diz respeito e que apenas é superado pela romã e pela anona. Todo este potencial consegue ainda ser enriquecido quando no momento do consumo se opta pelo excelente hábito de lhe adicionar canela, outro potente antioxidante.

Nos alimentos, como em tudo na vida, não existe a perfeição e no caso do dióspiro a sua doçura e elevada palatibilidade tem justificação no seu alto teor de açúcar. Não há no entanto razões para discriminar o consumo de dióspiro por este facto, até porque, se por um lado se trata de um fruto sazonal que apenas está presente nas nossas mesas num período muito limitado de tempo, por outro, existem frutos mais “comuns” e com valores de açúcar mais elevados (como é o caso das bananas e uvas). Existem mesmo alguns estudos promissores que revelam que a pele do dióspiro, rica em antioxidantes e fibra, poderá ter um efeito benéfico no controlo glicémico de pacientes diabéticos, tal como na diminuição dos níveis de triglicerídeos e colesterol.

Em conclusão, os dióspiros têm um pouco de açúcar a mais, mas face a todas as outras vantagens que aportam, o melhor é aproveitá-los enquanto pode. Se possível com canela!


Por Pedro Carvalho, nutricionista
*Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto


publicado por Maluvfx às 06:41
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Dicionário dos Alimentos - CAFÉ
O café é um daqueles casos que ultrapassam as fronteiras do alimento e entram no domínio do ritual. “O café e a conta!” é uma expressão que nos é intrínseca, a nós portugueses, como se já nascêssemos programados para este ritual do café no final de uma refeição.

À semelhança do bacalhau, o café é mais um alimento que é nosso sem o ser, entrando igualmente na categoria de “healthy guilty pleasure” devido à desconfiança clássica com que era olhado, muito em parte pela sua recorrente associação ao consumo de tabaco e inactividade física. Hoje o café está na moda e é bom que continue a estar, uma vez que a complexa mistura de mais de mil compostos que o constituem, incluindo vitaminas, minerais, compostos fenólicos e alcalóides, tem equivalência no número de benefícios que nos proporcionam.

Como no café não são só coisas boas, comecemos pelas más notícias que derivam do seu consumo excessivo e que passam pelo aumento dos níveis de pressão arterial e homocisteína, ambos factores de risco para as doenças cardiovasculares. O café não filtrado possui igualmente diterpenos capazes de aumentar moderadamente os níveis de colesterol, embora, quer pelo seu consumo caseiro filtrado, quer pelo escasso volume que possui um café expresso, os níveis de ingestão destes compostos não sejam preocupantes. Preocupante poderá ser a sua ingestão em excesso em crianças e adolescentes. No entanto, é bom que o “horror” com que se imagina uma criança a tomar café tenha igualmente paralelo ante o consumo de bebidas energéticas e refrigerantes de cola, chá e guaraná por terem igualmente níveis razoáveis de cafeína.

Dobrado o cabo das poucas tormentas do café, falemos do seu lado solar quando consumido em quantidades moderadas (entenda-se 3 – 4 cafés expresso por dia). O café faz parte do despertar de uma grande parte da população que não consegue “pensar” até tomar o primeiro café do dia. E, de facto, o café tem essa capacidade de aumentar o estado de alerta e a velocidade de processamento de informação que se traduz numa melhoria da nossa performance laboral e bem-estar. Existem já lotes no mercado que aproveitam inclusive a película exterior do grão de café, a pele de prata, pelo seu teor em fibra e antioxidantes e eventualmente função prebiótica. O café, já de si riquíssimo em compostos fenólicos, para além destes efeitos a curto prazo, tem sido também associado à prevenção de inúmeras doenças crónicas, tais como diabetes tipo 2, Parkinson e doença hepática (cirrose e carcinoma hepatocelular).

Nas quantidades moderadas, pode-se então dizer que o principal problema do café não está em sim mesmo, mas sim no pacotinho de açúcar que o acompanha e que nos brinda sempre com 30 desnecessárias quilocalorias que se multiplicam pelo número de cafés diários. Deste modo, para cuidar da sua saúde e para o apreciar devidamente, beba café, mas sem açúcar.

Por Pedro Carvalho, nutricionista
*Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto


publicado por Maluvfx às 06:40
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Dicionário dos Alimentos - CHÁ VERDE
Não há Verão onde não proliferem os mitos acerca de alimentos, suplementos e fármacos para a perda de peso. Apesar de todos os anos fazer-se a apologia de uma perda de peso sustentada e acompanhada por um profissional de saúde, a realidade vai muitas vezes no sentido do resultado imediato e da auto-medicação. Neste contexto, um dos produtos com maior “reputação” é precisamente o chá verde.

O chá verde, tal como todos os chás, é proveniente da planta Camellia sinensis, sendo que o factor que o diferencia do chá preto, branco e oolong é o seu rápido processamento a vapor que evita a fermentação e oxidação das folhas e mantém intactas algumas das suas propriedades farmacológicas.

A infusão de chá verde possui 99,7 por cento de água e valores vestigiais de vitaminas e minerais, o que faz com que sejam os seus compostos bioactivos (polifenóis) os responsáveis pelo seu efeito benéfico na saúde. Para além destes polifenóis, onde as catequinas são o composto mais relevante, o chá verde apresenta igualmente valores moderados de cafeína (30-40 mg/chávena – um café apresenta o dobro deste valor).

De um ponto de vista global, os efeitos mais relevantes para a saúde decorrentes do consumo de chá verde estão ao nível da redução do risco da doença coronária, melhoria do metabolismo das gorduras e açúcares em pacientes diabéticos e um efeito protector em alguns cancros, sendo que neste último caso as evidências não são totalmente conclusivas.

Focando-nos mais nos efeitos do chá verde relativos à perda de peso, é consensual que a conjugação das catequinas do chá com o seu teor de cafeína apresenta um efeito moderadamente positivo na perda de peso e na sua manutenção. Todavia, em consumidores regulares de cafeína (mais de 3 cafés/dia), este efeito parece ser atenuado devido à sua menor sensibilidade face aos efeitos da cafeína. Também a raça constitui um factor importante, dado que os asiáticos apresentam melhores resultados que os caucasianos relativamente à perda de peso com chá verde. Os mecanismos pelos quais esta perda de peso ocorre não são muito claros, mas poderá estar associada a um maior gasto energético em repouso, diminuição do apetite, aumento da oxidação de gordura e diminuição da absorção de alguns nutrientes.

Em suma, se não houver uma reeducação alimentar, esta pequena ajuda do chá verde será irrelevante no processo de perda de peso, sendo que este poderá ser igualmente uma excelente forma de promover melhores níveis de hidratação para quem não é particular apreciador de água (isto se não se adicionar açúcar ao chá!).

Por Pedro Carvalho
Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto


publicado por Maluvfx às 06:34
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Quarta-feira, 29 de Fevereiro de 2012
Dicionário dos Alimentos - COUVE GALEGA
Existem alimentos que encerram em si várias dimensões daquilo que podemos idealizar como a alimentação perfeita… A couve-galega é parte da nossa identidade gastronómica (imortalizada no nosso caldo verde), tem produção nacional e apresenta um perfil nutricional único que a transformam num alimento perfeito.

Não é por acaso que a couve-galega em algumas regiões é chamada de “couve de todo o ano”. A sua produção é contínua resistindo a todos os climas, e é esta imagem de marca que a tornou sinónimo de força para todos os trabalhadores minhotos que não dispensavam o caldo verde antes da sua labuta diária nos campos.

A sua composição nutricional não se aparenta na totalidade a um “normal” hortícola parecendo que foi captar um a um, os pontos fortes de cada grupo de alimentos. O cálcio e o leite formam uma espécie de irmandade para o comum dos consumidores, mas é interessante constatar que a couve-galega tem o dobro da quantidade deste mineral (mesmo tendo em conta que os oxalatos da couve impedem que uma pequena parte deste cálcio seja absorvido). Fenómeno semelhante ocorre com a laranja e a vitamina C, sendo que a couve-galega é igualmente rica nesta vitamina. Mas não se fica por aqui, ao possuir metade do ferro de um bife (não tao bem absorvido, é certo) e uma quantidade de vitamina A de fazer inveja a alguns legumes coloridos como o tomate e o pimento. A análise de um hortícola sob o prisma das calorias é algo dispensável, no entanto, fica a indicação que todo este aporte nutricional nos “custa” apenas 26 kcal por 100 gramas!

Também em fitoquímicos, a couve-galega apresenta uma extensa variedade de carotenóides com a luteína em lugar de destaque pelo seu papel benéfico nas cataratas, aterosclerose e doença pulmonar crónica obstrutiva até aos glicosinolatos com evidência comprovada ao nível da diminuição do risco de alguns tipos de cancro.

É certo que o processo de cozedura destrói boa parte destes compostos e consequentes benefícios, por isso, adicionar a couve à sopa só no final da cozedura e cozê-la a vapor são indispensáveis para usufruir da couve-galega na sua plenitude!

A couve-galega não é assim apenas mais um hortícola, é uma dádiva da natureza, uma celebração à saúde…

Por Pedro Carvalho
Professor Assistente Convidado da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto


publicado por Maluvfx às 10:07
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