Ética é o conjunto de valores, ou padrões, a partir dos quais uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões. A ética é importante por que respeita os outros e a dignidade humana.
Terça-feira, 27 de Dezembro de 2011
«Sacos de plástico Reduzimos o consumo, reutilizamos mais e aprendemos a reciclar. Não chega!»
Continuam omnipresentes, mas há um novo cuidado na maneira como os gastamos: passaram a ser pagos, são biodegradáveis ou existem em formatos maiores para poderem ser utilizados várias vezes. Há menos desperdício, mas é só nos sacos de plástico. E o resto?
Por Nicolau Ferreira e Rui Gaudêncio

Até há poucos anos chegávamos a sentir-nos ultrajados quando ficávamos sem sacos de plástico na caixa de um supermercado e tínhamos de pedir mais um para guardar as últimas três latas de atum e a garrafa de óleo. O gesto automático do empregado que nos atendia era suficiente para nos sossegar. As mãos desapareciam por baixo do balcão onde passam as compras e voltavam a aparecer com mais um molho de sacos com um ar resistente, desinfectado e fresco – como se tivessem acabado de nascer ali, de propósito para nós. O atum e o óleo eram guardados, preenchendo um terço do saco, pagava-se a conta e a missão estava cumprida. Levávamos para casa muitos sacos de plástico com múltiplas funcionalidades, em que o único perigo era causar a asfixia de crianças.

Durante décadas, poucos se interrogaram do impacto que esta transacção tinha na natureza. Mas a onda ambiental que tem vindo a atravessar o globo viu neste objecto, representante da cultura do desperdício, um alvo para passar uma mensagem. Os sacos de plástico, tão omnipresentes como os carros de cinco portas e o ar condicionado, tornaram-se o símbolo da luta pelo ambiente.

Em Portugal ainda não há leis como na Irlanda, em Gales ou em algumas cidades dos Estados Unidos que taxaram universalmente o saco, mas notam-se diferenças. Apareceram no mercado sacos que se intitulam biodegradáveis, foram fabricados sacos encanastrados, resistentes e maiores, de longa duração. Supermercados que distribuíam livremente passaram a pedir taxas simbólicas por cada unidade. A situação mudou, os hábitos das pessoas também e já pensamos um segundo, quando o empregado de balcão nos pergunta o número de sacos que queremos.

“Enquanto não se pagava, era tudo nosso; agora, como é a pagar, as pessoas já se encolhem um bocadinho, como é normal”, diz Fátima Ribeiro, 43 anos, à saída de um Pingo Doce em Lisboa. A cadeia de supermercados da Jerónimo Martins teve uma vitória indiscutível, ao conseguir diminuir o consumo de 60 por cento dos sacos de plástico desde que, em 2006, introduziu a taxa de valor simbólico de dois cêntimos por saco.

Segundo a empresa, a aposta era ambiental. “O Pingo Doce acredita que deve assumir uma posição que motive a poupança de recursos naturais e de sensibilização do consumidor”, explica por e-mail Rita Cardoso, assessora da empresa. A aposta é bem intencionada, mas o plástico que se continua a levar para casa e a deitar fora em embalagens, invólucros, garrafas de água é em proporções absurdas. Já para não falar no sem-número de problemas ambientais e ecológicos que o mundo engendrou – no topo dos quais aparecem as alterações climáticas, a falta de água e a extinção de espécies.

Estamos a aprender a poupar nos sacos, e depois?

Toneladas de lixo

Desde passarem a ser identificados como flor nacional (não oficial) da África do Sul até serem os responsáveis pelas cheias no Bangladesh durante o final dos anos de 1990 por entupirem o sistema de esgotos (os séculos que demoram a degradar-se faz com que se acumulem rapidamente), os sacos de plástico costumam aparecer pelos piores motivos nas notícias relacionadas com o ambiente.

Não é só uma questão de serem fabricados a partir de um subproduto do petróleo, um recurso não renovável e por isso não sustentável, com emissões de CO2 associadas à sua síntese e transporte. Há o problema acrescido de muitos países não fazerem recolha dos sacos de plástico, que acabam dispersos na natureza. “Muitas aves e tartarugas acabam por ingerir esses elementos e os animais morrem sufocados,” exemplifica Rui Berkemeier, fundador e coordenador do Centro de Informação de Resíduos da Quercus.

Os primeiros compostos que precederam o plástico nasceram durante a segunda metade do século XIX, mas os sacos só começaram a ser introduzidos em massa cem anos depois. Jaime Festas é do tempo em que as pessoas não os usavam. O dono de uma das mercearias do Bairro da Graça, em Lisboa, tem 53 anos e mais de 40 a trabalhar no negócio. Recorda-se das almotolias de folha de metal para o transporte do azeite, dos garrafões de vidro para a água mineral, do papel onde se punha a quantidade de manteiga ou banha que se pesava. Para o transporte das compras serviam os sacos de papel, que continua a defender veementemente como uma indústria que se poderia desenvolver em Portugal, e os cestos de verga que as empregadas utilizavam. “Lembro-me da vinda dos sacos de plástico”, diz.

São indiscutíveis os benefícios que todos viram no objecto: é mais higiénico, não verte líquidos, é impermeável, leve mas com uma grande resistência, pode ser utilizado várias vezes. Hoje, Jaime Festas fornece gratuitamente os sacos de plástico aos clientes, e paga um euro e meio por quilo do material.

“Estima-se que a quantidade de sacos de plástico colocados no comércio retalhista varie entre 10 mil e 20 mil toneladas”, explica por e-mail Rui Toscano, que preside ao conselho de administração da Plastval, a sociedade anónima que foi criada há 13 anos por um conjunto de indústrias do plástico, depois de uma directiva comunitária estabelecer metas para a reciclagem.

Em 2008, reciclaram-se em Portugal 35 mil toneladas de plástico, cinco mil das quais eram sacos – cerca de metade de todo o tipo de plástico, na versão de filme, composto por uma substância chamada polietileno que é reciclado. Os sacos representam menos de 15 por cento de todo o plástico reciclado.

As normas europeias prevêem que em 2011, em Portugal, mais de um quinto (22,5 por cento) do plástico seja reciclado. “A taxa de reciclagem nacional do plástico situa-se nos 19,1 por cento; se estivéssemos em 2011, a meta não estaria atingida, razão pela qual continua a ser necessária a participação de todos os cidadãos na separação e deposição selectiva do material plástico”, observa Rui Toscano. Não se pense, contudo, que a tendência para a produção deste material sintético, capaz de ser moldado em milhares de objectos diferentes e que é utilizado para fazer tudo, desde carros até material para informática, vá diminuir.

Segundo o relatório The Compelling Facts about Plastics 2009, publicado há menos de um mês pela Plastics Europe, foram produzidos no ano passado 245 milhões de toneladas de plástico em todo o mundo, tendo havido uma diminuição em relação ao ano anterior como efeito directo da recessão mundial. No entanto, as estimativas – para 2015 – das necessidades dos cidadãos deverão exigir à indústria mundial uma produção de cerca de 328 milhões de toneladas. É provável que daqui a meia década levemos menos sacos para casa, mas mais plástico.

Opções diferentes

No dia-a-dia há quem veja as medidas que estão a ser tomadas pelos supermercados como o Pingo Doce um arranque positivo para uma cultura com menos desperdício. “Acho que nunca se deve chamar inútil a um esforço”, defende João Pedro Frazão, estudante do ensino superior, que diz ter alterado o seu comportamento desde que foi obrigado a pagar os sacos de plástico. “O facto de pagar, para além da parte financeira – não é que sejam muito caros -, obriga uma pessoa a pensar: se calhar é melhor reutilizar, comprar sacos para o lixo.” O jovem de 21 anos aponta para as alternativas que existem, como os sacos encanastrados, que são maiores e podem ser reutilizados.

Tanto o Pingo Doce como, entre outros, a cadeia de supermercados Continente (empresa pertencente ao grupo que detém o PÚBLICO) têm à disposição do consumidor este tipo de saco, que se pode adquirir a 50 cêntimos. Mas a filosofia do grupo da Sonae é diferente em relação aos sacos comuns. “Consideramos que os sacos são “embalagens de serviço”, sendo entendidas como parte da globalidade dos serviços que prestamos, para os quais não faz sentido introduzir pagamentos”, defende por e-mail a assessoria da empresa.

Esta opinião é partilhada por João Pereira Pestana, de 56 anos, que paga pelos sacos de plástico que leva. “Se vimos às compras, temos de levá-las. Tem de haver um saco de plástico – dado ou por uma quantia simbólica.” E para o pasteleiro a questão dos dois cêntimos cobrados pelo Pingo Doce “não é uma quantia simbólica, ao fim de muito tempo é um valor mesmo”. No caso do Minipreço, onde sempre se pagaram os sacos de plástico, o valor sobe para três cêntimos.

Ainda assim é uma quantia irrisória, quando comparada com o que se passa na Irlanda, onde o preço dos sacos de plástico, imposto pelo Estado, começou por ser de 15 cêntimos em 2002 e mais recentemente subiu para 22. Depois de a medida ter sido aplicada houve uma redução de 90 por cento no número de sacos de plástico utilizados.

A alternativa ambiental do Continente foi apostar nos sacos oxodegradáveis. “O novo saco-cliente [o saco comum] é fabricado através de um processo de inovação tecnológica que garante a degradação do plástico em apenas alguns meses, sem qualquer intervenção humana.” A composição do saco leva um aditivo que, supostamente, torna as ligações moleculares mais fracas e permite aos microrganismos uma degradação mais fácil. Segundo a Sonae, os sacos ficarão degradados totalmente “entre 18 a 24 meses”.

A Quercus está desde Janeiro a realizar uma experiência para comprovar a capacidade de degradação deste novo material. Quatro ambientes diferentes testam a resistência do plástico – água normal, água salgada, envoltos em lixo e em cima da terra. Em todas as experiências o material está submetido à luz natural. Até agora os sacos de plástico parecem continuar tão viçosos como no primeiro dia.

Rui Berkemeier, que questiona as novas propriedades do material, alerta que a grande discussão a nível mundial é o impacto do material. “Os oxoplásticos entram na natureza de uma forma perniciosa”, alerta, explicando que não se sabe que efeito vão ter nas cadeias alimentares.

O ambientalista argumenta que devem ser tomadas medidas de racionalização do plástico, preferindo que o material seja utilizado para fabricar objectos de longa duração: “O plástico tem propriedades fantásticas, não faz sentido ser utilizado em produtos descartáveis.” Quanto ao saco de plástico, defende que não seja oferecido. “Os dois maiores partidos têm no seu programa de Governo medidas explícitas para reduzir o consumo de sacos de plástico, defendemos que haja um consenso,” diz, explicando que uma medida destas seria um símbolo muito importante para a luta pelo ambiente.

Para Margarida Silva, ambientalista do Porto, apesar de útil, passar a pagar por cada saco de plástico teria um efeito meramente cosmético. “O plástico é um subproduto do refinamento do petróleo; o nosso grande problema é estarmos toxicodependentes do petróleo energeticamente. Isso é um tabu ainda maior do que o plástico.”

A Plastval confirma que apenas quatro por cento do petróleo bruto extraído anualmente é utilizado na produção de matérias-primas plásticas. Aos ambientalistas esta associação responde que “políticas ambientais baseadas na limitação do crescimento são falsas políticas ambientais” e deve-se apostar em dar mais valor aos produtos através de uma redução na produção e eliminação dos resíduos. “O desempenho ambiental da produção, uso e destino final dos sacos de plástico é superior, quando comparado com outros materiais alternativos”, lembra a Plastval.

No final do dia, o papel máximo do cidadão parece reduzir-se a separar o lixo correctamente.

Acreditar no gesto

Na Miosótis de São Sebastião, em Lisboa, os sacos de plástico são a excepção. O segundo supermercado de produtos biológicos da empresa tem uma filosofia clara assente na redução do consumo, reutilização e reciclagem. Os únicos sacos de plástico que o P2 viu foram junto aos frescos, para os legumes molhados. “Incentivamos as pessoas a trazerem um saco para o pão, um saco para os legumes”, explica Ângelo Rocha, um dos donos da Miosótis, acrescentando que as pessoas que vão ali fazer um consumo ecológico “devem ter um comportamento ecológico também em relação ao saco”.

Para quem se esquece de trazer sacos há à venda sacos de pano ou de papel. Se o cliente não quiser pagar, tem ainda disponíveis as caixas de cartão que vieram com os produtos e que já não são utilizadas. Dentro da loja o plástico não abunda ou está concentrado nos carrinhos das compras reciclados que são feitos a partir de 25 garrafas plástico de litro e meio. Há cereais a granel e os produtos frescos têm uma embalagem simples, com um tamanho mínimo, para reduzir o plástico utilizado. Segundo Ângelo Rocha, as marcas optaram por embalagens mais “justas” na sequência da pressão dos consumidores com maiores preocupações ecológicas.

Os clientes que vão à loja apreciam os produtos pela qualidade e o “sabor”, como é o caso de Dina Dima, que acrescenta ser também uma forma de poluir menos. “É menos prejudicial no futuro, sei que é mais caro, mas que traz vantagens para mim e para todos, no final”, explica a conservadora de museus, de 46 anos, que deixou de utilizar sacos de plástico desde que vai à Miosótis. E não acha que poupar nos sacos de plástico é uma gota no oceano? “É, mas eu acho importante, tenho de acreditar, se não, parava.”

Quando Dina passa pela caixa do supermercado, o diálogo não será assim tão diferente. “Às vezes, quando me esqueço dos sacos, tenho de comprar aqui. São muitas as vezes em que me esqueço.”»

In Jornal Público, 02 de Novembro de 2009


Sacos Plástico…Será Que Não Os Dão Por Questões Ambientais Ou Económicas??



publicado por Maluvfx às 05:36
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