Ética é o conjunto de valores, ou padrões, a partir dos quais uma pessoa entende o que seja certo ou errado e toma decisões. A ética é importante por que respeita os outros e a dignidade humana.

Quinta-feira, 6 de Setembro de 2012
"chéché" e a Torreira
A nossa amiga Cristina D'Eça Leal publicou no seu mural este artigo que passamos a transcrever para perceberem o busílis:

Chaubet e a Torreira 
APESAR DOS MEUS ALERTAS CAÍRAM NA ESPARRELA
Desde que começou a ser moda, alguns meninos e meninas, armados em piedosas carpideiras, irem para junto das praças de toiros provocar e insultar os apreciadores de touradas, que tenho avisado os aficionados de que é preciso algum cuidado. Sei que estas juvenis e ridículas manifestações passam com a idade. Todavia, na fase de crescimento, sempre incomodam um tanto e até são capazes de convencer algum que, ingenuamente, os leve a sério. Não se aperceba de que a verdadeira pretensão dessa desocupada (digo desocupada porque, à hora em que aparecem com os protestos os jovens, normalmente, estão a estudar ou a trabalhar) é chamar a atenção.
Isso mesmo compreendeu a P.S.P. de Lisboa. Para evitar que aqueles a quem chamo os “ contra”, os auto intitulados anti taurinos, se aproximem e, com o falso pretexto de querer catequisar para a sua causa os taurinos, provoquem ou insultem, criou um espaço delimitado por um gradeamento onde os instala. Depois, vigilante, deixa-os vociferar os seus protestos e insultos mas não sair do espaço que lhes foi concedido. Sei, por experiência própria, a oportunidade desta medida.
Antes da P.S.P. ter tomado consciência de que não eram os taurinos que provocavam, insultavam ou queriam à força obrigar os “contra” a gostarem de touradas, os piedosos anti touradas andavam à vontade. Fui algumas vezes, atrevida e malcriadamente, abordado por piedosos e “pacíficos” contra que me questionavam porque gostava de touradas e censuravam-me por isso.
Como a abordagem era feita por miúdos com idade de serem meus filhos ou netos, levei sempre o caso para atitudes próprias da adolescência. Não lhes liguei. Mas houve aficionados, com todo o direito, devido às provocações de que eram alvo, que reagiram de forma menos tolerante. Até violenta. Era isso que eles queriam. O objetivo era esse. Levar os taurinos a perderem a cabeça e depois acusarem-nos de desordeiros, agressivos, etc. e, de início tiveram êxito.
Ultimamente porém os taurinos e, como disse já, a P.S.P. , estragou-lhes a tática. A P.S.P. encurralando-os, os taurinos não ligando às suas ruidosas provocações. Mas eles, certamente por terem pouco que fazer, não desarmam. Como em Lisboa nada conseguiam, lembraram-se de Viana do Castelo. Para mais sendo tão publicitada a tourada que se ia lá efetuar.
Porém, mediatizada a iniciativa da Prótoiro, as autoridades de Viana, seguiram o exemplo das de Lisboa. Criaram um espaço à volta da praça, onde os cavaleiros podiam exercitar os seus cavalos, as pessoas podiam chegar às bilheteiras sem serem importunadas, os intervenientes no espectáculo circularem livremente. Enfim, embora fora do “perímetro de segurança” criado pelas autoridades para os conter, lá estivessem, os planos dos “contra” falharam. Não deram nas vistas.
Já na Torreira a coisa foi diferente. A autoridade, talvez menos avisada, não os controlou devidamente e eles tiveram ocasião para atirar pedras aos cavalos e cavaleiros, provoca-los e insulta-los e conseguir a reação que procuravam.
Um dos cavalos espantou-se e foi para cima dos “contra” causando o pânico. Oportuna câmara de televisão que “POR ACASO” estava ali filmou o sucedido e até filmou uma menina lacrimosamente indignada a fazer queixa dos taurinos. Eles é que eram os maus. Eles é que tinham provocado.
Tudo planeado com antecipação. Tudo estudado cuidadosamente e os taurinos, caíram na esparrela.
Ora este arrazoado todo, até mesmo repetitivo, porque essa gente dos “contra” é manhosa e nós, os taurinos, temos que saber lidar com ela. Lembrem-se que até a coordenadora do Portal do Governo, confirmou que os resultados de uma iniciativa que os “contra” tiveram, era fraudulenta. Tinha 3.000 registos falsos! O que fez essa garotada? (dada a abismal diferença de idade existente entre nós, considero-me com direito a usar este adjetivo) Pediram desculpa pelo erro? Deram alguma explicação? Não! Atrevida e capciosamente, para sugestionar crédulos, publicitaram uma informação encorajadora do seu objetivo. A net é o seu meio de propaganda mais utilizado. Tentam através dela, dar a ideia de que têm numeroso apoio quando, afinal, perante o número de taurinos que há, são um número, barulhento e atrevido, sim, mas insignificante.
Digo atrevido porque, à porta de uma praça de toiros estão 30/40/vá lá/100, “contras”. A assistir à tourada, estão uns milhares de taurinos. Não será atrevimento pretensioso, malcriado e exagerado, essa miudagem criticar as opções desses milhares? A defesa dos animais? Não! Um expediente para se fazerem notados. Cresçam. Façam-se mulherzinhas e homenzinhos tranquilamente. Fazendo-se respeitar mas, também respeitando os outros.
Quanto a nós, não responder é o melhor. Se não lhes dermos "material" para poderem comentar, apagam-se como balão sem gás. Falta-lhes gás/imaginação para continuar.
Carlos Patrício Álvares (Chaubet)

Como sempre alguém do "contra" comenta:

José Brás Um abraço a um homem grande: -"TORREIRA

Mais dia, menos dia, teria de acontecer!
Têm quase razão, os que dizem que não há paciência que aguente tanta demonstração de intolerância e de abuso de uma coisa que, se de modo justo se tem como liberdade de opinião no seu direito pleno, não só de a ter mas também de a defender publicamente, juntando-se por afinidade de ideais, organizando-se em grupos, manifestando-se no espaço público, mas que, por exagero de repetição, acaba por se tornar numa clara provocação e apelo ao confronto com os que, no outro lado das suas “razões”, agem dentro da legalidade, em tempos e espaços de fruição do seu crer e do seu fazer.

De início foram as palavras apenas que ouvimos e lemos de gente que, seja lá com que motivação for, começou por aparecer na Comunicação Social, reclamando contra a prática da tauromaquia; exigindo o fim da tourada; pressionando Órgãos do Governo, argumentando contra uma actividade que consideram anacrónica num tempo que, dizem, será o de um homem livre e solidário, não apenas no espaço humano mas também da vida animal.

Evidentemente, tal postura nunca mereceu dos aficionados qualquer postura mais azeda do que o natural contra-ponto de quem, esperando também do mundo tal estágio civilizacional, se recusa a desconsiderar a tauromaquia no quadro muito largo da cultura de um povo, das suas tradições mais enraizadas, de um processo de crescimento como gente, sempre buscando na fundura do tempo, a fonte de onde brotou a luta do homem pela sobrevivência, seja no acto da caça; seja na reprodução dos meios de subsistência e na multiplicação dos pratos na mesa, ou, muito mais fundo, na recusa da realidade quotidiana simples e comezinha, buscando o imaterial, orando a deuses, inventando a representação dessa realidade no pictórico, na palavra, na elevação do profano ao sagrado.

Mas as coisas não se ficaram pela argumentação mais ou menos teórica, mais ou menos filosófica, mais ou menos platónica. Como seria esperável e decorre da dinâmica do conflito de ideias, atrás da palavra teria de vir a acção por parte dos que chegam e querem alterar o estatuto, como se disse, num direito pleno da sua cidadania individual e colectiva. Vieram as manifestações, não apenas junto à sede do Parlamento e de outros locais mais ou menos oficialmente ligados à actividade cultural, mas também junto às praças de touros em dias de corrida.
Não veio mal ao mundo nisso.

Depois vieram os blogues e um crescer de linguagem marginal ao debate e às conveniências da discussão, trapalhadas, mentiras, votações do arco-da-velha, maradas e vigaristas, muita ignorância, muita raiva e mesmo ameaças. O espantoso é que tudo isto caiu no caso, trazido, não por quem já estava instalado nos anos de uma tradição secular, alegadamente passadista, conservador e violento, mas de quem chegava e tentava acuar, também alegadamente, progressista, dono de uma visão sobre um humanismo novo que irmanava a todos, gente e animais.

Por parte dos aficionados, e sobretudo das associações que juntam aficionados, criadores de toiros, toureiros e profissionais vários da tourada, a resposta foi sempre calma, reconhecendo sempre o direito à diferença, à expressão da opinião e ao ser contra, queixando-se nos círculos apenas contra diatribes de palavra, tentando mostrar os seus legítimos valores culturais e desmontando a grande ignorância que do outro lado se exibia sobre a actividade.

Os anti, apesar das sucessivas derrotas, mantinham presença à porta do Campo Pequeno, sempre com reduzida mas barulhenta representação, sobretudo nos locais que poderiam potenciar a presença de câmaras de tv.
Nos últimos tempos começaram a chegar sinais de alguma violência, com ameaças veiculadas por seitas, holligans e grupos de sinais totalitários e violentos que parecem ter percebido, a exemplo do futebol, que a penetração nestes grupos de anti-taurinos poderia dar-lhes alguma oportunidade de destaque.

Talvez esteja aí, mesmo por fora do conhecimento dos pequenos grupos de manifestantes e aproveitando a sua presença, que temos assistido a acções de vandalismo e destruição sobre viaturas e outros bens de propriedade de aficionados e, como aconteceu na Torreira, ao arremesso de pedras contra cavalos de toureio.

Em minha opinião, a reacção do cavaleiro Marcelo Mendes não foi correcta do ponto de vista de uma resposta que se quer calma e distante dos modos e dos meios destes grupos que começam a ser conhecidos como eco-terroristas, aparentemente defensores da vida e do direito animal, na verdade apenas gente desiludida com o fracasso do seu modelo cultural urbano, construído nos extremos de um processo de ruptura social e mesmo fora das suas margens naturais, tornando-se de facto anti-sociais e perigosamente agressivos contra tudo o que não caiba no seu pesadelo.

A corrida de toiros não tem que ser contra os direitos e as liberdades sociais dos seus opositores mas tem o dever de recusar e de repudiar as tentativas de intimidação e as agressões dos que se servem desse movimento para as suas arruaças de rua. A corrida de toiros deverá estar sempre disponível para um debate aberto sobre a sua justificação social, seja com quem for que o queira, no plano das ideias, pô-la em causa. A corrida de toiros tem o direito de não gostar de insultos e da ocupação permanente de um espaço que, sendo público, lhe pertence ao menos no plano do ideal no tempo da execução da sua legal e socialmente reconhecida e benevolente actividade. A persistência de tais manifestações dos anti-taurinos junto ao espaço onde existem as praças de toiros e em dias de corrida, apesar de ser um direito de cidadania, é, pela sua repetitividade um acontecimento mais visto como provocação do que como protesto, naturalmente na esperança de uma reacção de toureiros e de aficionados que os possa vitimizar aos olhos de um jogo qualquer que passe na televisão.

Acabando como comecei, têm quase razão, os que dizem que não há paciência que aguente tanta demonstração de intolerância e de abuso. José Brás. Publicado ontem no mural da ACTC


Ao que Cristina D'Eça Leal responde:

Um manifesto que poderia ser interessante se não fosse demasiado palavroso e absolutamente falacioso.

Chamei Chéché à criatura porque não a conheço nem do autocarro, mas a prosa dele reflete uma falta de neurónios confrangedora. Atribuí a irrazoabilidade à degenerescência celular por simpatia, pois por isso não poderá ser criticado, evidentemente.
Está visto que o José gosta de se ler e de ser lido, mas essa característica revela-se um obstáculo a quem quer defender um ponto de vista. É preciso esgravatar muito efeito de estilo para conseguir um ou outro argumento e, o que torna ainda mais penoso o debate, geralmente o argumento baseia-se em premissas falsas.
Em traços gerais, direi apenas que,

1º Os excessos cometem-se de parte a parte e quem quiser camuflar isso fá-lo de má fé, por fanatismo ou pura desonestidade (também há os simples, aqueles que ouvem uma frase ou vêem uma imagem e tiram logo conclusões irrefutáveis, mas não me parece que seja esse o caso)

2º Provavelmente não desconhece que a proteção policial é pedida pela Associação Animal e todos sabemos que não nos manifestamos enquanto esta proteção não estiver assegurada no terreno. Mas partem para um aproveitamento vergonhoso dessa situação, tentando mascarar a cultura de subjugação, intimidação e violência que caracteriza o comportamento tauromáquico (não estou com isto a dizer que não haja aficionados pacatos, como é lógico, estou a falar da atividade e do que promove)

3º Se só acordaram para o movimento abolicionista da tauromaquia neste século ou no século passado, a incultura histórica de quem se arvora em defensor máximo da identidade cultural brada aos céus e revela bem as máscaras de que se revestem para caucionar os vícios de que padecem. A tauromaquia esteve enraizada nas culturas de praticamente todos os povos europeus e destas foi sendo paulatinamente retirada até permanecer nas zonas mais incultas e atrasadas como o enclave ibérico e algumas regiões do sul de França, onde a contestação sobe de tom, como seria de esperar de pessoas que já não arrastam as mulheres pelos cabelos nem açoitam negros

4º Referindo-me agora concretamente ao episódio lamentável da Torreira, devo dizer que quem baseia um "artigo de opinião" nas desculpas esfarrapadas de um idiota que nem sequer tem a coragem de assumir frontalmente as suas atitudes, ignorando por completo a filmagem feita no local, merece o meu desprezo total. O meu e o de qualquer pessoa de boa fé com 2 neurónios no mínimo. Vê-se bem na filmagem que os manifestantes estão bastante afastados da praça e pacificamente sentados no chão; é o pelintra a cavalo que investe sobre eles por duas vezes e que se prepara para a terceira antes de ser travado. A valentia só o acomete em cima de um cavalo e quando rodeado de peões de brega, não vá a coisa correr mal. Alegar que os defensores dos animais apedrejam cavalos é tão ignóbil e estúpido como massacrar touros e cobrar bilhetes para assistir.

Correndo o risco de me repetir, mas sem me ralar nada com isso: a única razão que os aficionados podem alegar é que têm o direito a assistir a um espetáculo legal. O resto é grotesco. Poupem-se e poupem-nos.


... e como acham que o "ataque é a melhor defesa", lá vem de novo o sr.José Brás:

 ‎...e ao palavreado puro e duro. Vá la que você, Cristina, nasceu de costas para a imagem de si. Quanto ao meu amigo Chaubet, que você não poderia conhecer nem de autocarro porque ele é um marciano. Por acaso um marciano culto, boa gente, de humanidade que você não entenderia porque muito cheia de amigos, de actos de respeito pelo ser humano. Não é culto como a maioria dos anti-taurinos que vejo por ai a dar bocas como este Vitor Dias e porque cultura e humanismo aconteceram só para vosso benefício tertuliano pequeno. A vossa luta (se se pode chamar luta a isso), é velha, sim, como não poderia ser de outro modo. Mas é de uma velhice de derrotas em derrotas (melhor é reler Eça, por exemplo) até à fraude do Porta do Governo; até à mentira da imagem do toiro condoído pela saúde do toureiro; até ao aproveitamento da vossa causa por marginais nazis. Acredito que as pessoas que se manifestavam na Torreira era gente pacífica que se bate pela sua verdade e osso sempre merecerá o meu respeito. Mas sei do vandalismo que por lá passou nos carros dos aficionados e nas pedras arremessadas. Por isso também repudio a atitude do rapaz cavaleiro

... ao que Cristina D'Eça Leal responde, assertiva, como sempre:

Sim, José, tenho tendência para adjetivar, mas faço-o para reforçar ou colorir uma ideia, não em substituição da mesma.
Talvez a amizade e a partilha de gostos o impeça de ver os disparates que esse tal Carlos Patrício despeja, ou então leva-o a defendê-lo de tudo e todos, mas devia defendê-lo sobretudo de si próprio.
A nossa luta é - como todos os grande movimentos sociais - feita de avanços e recuos e acreditamos que de derrota em derrota chegaremos à vitória final. Como já lhe disse anteriormente, prefiro estar do lado dos vencidos se aí estiver a razão; não preciso de sentir maiorias atrás de mim para crescer.
Gostava que me explicasse em que é que relendo Eça, na sua opinião, eu passaria a apreciar o nobre negócio de massacrar animais em público, chamando-lhe arte. Porque sinceramente tenho dificuldade em perceber.
A fraude do portal do governo, não entendo - tanto quanto me lembro foi uma associação tauromáquica que explicou no seu mural como é que se procedia à suposta fraude.
A mentira a que se refere pareceu-me uma liberdade poética de legendar uma imagem, atribuindo ao touro sentimentos de compaixão ou de qualquer outra coisa, não me lembro. Era apenas um "wishful thinking" inocente e inconsequente. Quanto aos marginais nazis, o Vítor Dias já lhe respondeu; em qualquer dos lados há pessoas recomendáveis e outras irrecomendáveis, mas do seu lado pelos vistos, são os próprios dirigentes que se assumem como nazis. Embora deva dizer-lhe que me parece que as razões que assistem a qualquer causa devam ser as necessárias e suficientes para lhe dar suporte sem termos que recorrer ao currículo - poluto ou impoluto - dos seus seguidores.

(houve uma troca de "mimos" mas não interessa aqui para nada)


publicado por Maluvfx às 08:29
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Quarta-feira, 8 de Agosto de 2012
Argumentos: Touradas II [Touro Bravo]
Texto exemplarmente completo e detalhado sobre todas as questões que se levantam nos debates sobre tourada, incluindo a ideia de que as touradas evitam a extinção do touro bravo:

"Não vamos entrar pelos argumentos, porque aí, lamento, mas espalham-se os aficionados. O único argumento legítimo e verdadeiro que têm, é o de a tourada ser um espectáculo legalizado e, como tal, terem todo o direito a participar. Ponto final porque acabam aí os argumentos válidos.
O sr. que fala em adrenalina ou no sangramento para alívio do touro obviamente não entende nada de biologia, de fisiologia ou de comportamento animal; percebe apenas da sua adrenalina quando assiste a espectáculos de violência. Essa dos sangramento para alívio dos humores foi uma prática médica muito em voga na Idade Média mas abandonada posteriormente. 
O que está na base do movimento anti-touradas não é claramente uma questão de gostos. Os gostos não se discutem. O pior é quando os nossos gostos colidem com a vida ou a integridade física de outros. Gostar é diferente de amar ou respeitar. É por demais evidente que os pedófilos gostam crianças; mas é uma maneira de gostar que passa pela exploração dos menores e pela negação dos seus direitos. Os que vivem da indústria tauromáquica cuidam dos touros porque vivem da sua exploração; se eles não lhes trouxessem rendimento, duvido que tratassem deles em regime pro-bono. Mas fica o desafio: vamos ver quantos aficionados amam verdadeiramente a raça taurina e se dispõem a cuidar dos exemplares existentes quando acabarem as touradas. Como fazem, por exemplo, as associações de animais por este país fora, que abnegadamente se dedicam a cuidar de cães e gatos abandonados. 
Outra falácia comum para fugir à discussão séria sobre ética é comparar a vida em liberdade que precede a tortura na arena à vida dos animais em criação intensiva. É claro que a criação intensiva é uma ignomínia, mas não invalida que as corridas de touros não constituam também uma ignomínia. Aqui podemos cair na questão de comparar coisas parvas como campos de concentração, por exemplo: seria melhor acabar em Auschwitz ou em Treblinka? É melhor morrer à nascença ou aos 4 anos? Com uma facada no peito ou afogado? Tudo isto são questões absolutamente laterais e cujo único objectivo é desviar a atenção de uma pergunta muito simples: 
É eticamente aceitável criar um animal para o massacrar publicamente e ganhar dinheiro assim?

Se respondermos sim, abrimos a porta para as lutas de cães, de galos, e até de indivíduos que, por grande carência financeira ou mesmo falta de neurónios, se disponham a entrar num recinto e participar numa luta de morte em jeito de espectáculo. Há quem goste de ver. E se vamos pela quantidade de público a assistir, nada batia os linchamentos públicos nos pelourinhos. Mas isso também acabou; houve uma altura em que passámos a considerar isso um espectáculo incorrecto e imoral. 
Vi agora que ainda há mais uns pseudo-argumentos: comparar injecções ou vacinas com as bandarilhas. Parece uma brincadeira comparar uma agulha fina com o objectivo de tratar uma doença ou evitar outra - no caso das vacinas - com a introdução de 9cm em metal grosso, cujos 3cm finais são em forma de arpão para não sair e continuar a rasgar os músculos e os ligamentos durante a lide. Das duas, três: ou está a brincar, ou não usa o raciocínio ou quer enganar os outros. 
Depois vem mais uma das bandeiras frequentemente agitadas: a da extinção do touro bravo. Como muitos dos que lutam contra a existência das touradas são pro-ambientalistas, este parece ser um argumento forte. Parece, mas obviamente não é. O que os ecologistas defendem é a não interferência nos ecossistemas porque há equilíbrios frágeis cuja totalidade das varáveis são desconhecidas e as rupturas imprevisíveis. Não tem nada a ver com o touro bravo. A extinção do touro bravo teria o mesmo impacto ambiental que a extinção do caniche. Podemos lamentá-la, claro, por razões sentimentais, mas não afectam em nada os ecossistemas. E se falamos de ambiente, as herdades onde se faz a criação extensiva de touros podiam dar lugar a montados de sobro e plantação de oliveiras. Temos um clima e um solo excelentes para a produção de azeite e cortiça e não somos autónomos na questão do azeite, o que nos traria ganhos financeiros e mais independência económica. Os toureiros, se quisessem reconverter-se, podiam ir para a apanha da azeitona com as suas calcinhas justas e a jaqueta de lantejoulas; não seria prático mas dava uma nota de cor aos campos nessa altura do ano."
Cristina d'Eça Leal

Fonte:  Texto escrito por uma Amiga e publicado em 2009 no Fórum MATP - Movimento Anti-Touradas de Portugal


publicado por Maluvfx às 22:21
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Segunda-feira, 6 de Agosto de 2012
As corridas de touros são o espetáculo com mais público a seguir ao futebol
Começa logo por ser discutível o futebol deixar a categoria de atividade desportiva para passar a ser considerado espetáculo.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, os concertos de música ligeira são os que movimentam maior número de espectadores (3,2 milhões), seguidos pelo teatro (1,6 milhões), variedades, música clássica, circo e, por último, a tourada. Isto para falarmos apenas de espetáculos ao vivo, porque se contabilizarmos as visitas a museus (10,3 milhões), galerias de arte (5,5 milhões) e cinema (16,4 milhões), então a clivagem é muito superior.

A ex-ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, afirmou que «[a] tauromaquia existe e movimenta 650 mil espectadores. É nossa obrigação cumprir a lei e a lei diz que temos que a regular». Aqui temos mais uma abusiva manipulação de números: os espetáculos tauromáquicos registaram a entrada (venda de bilhetes, incluindo aqueles que são comprados pelas autarquias, como forma encapotada de subvenção) de 650.000 espectadores. É sabido que o público das corridas de touros é errante; não assiste apenas a uma corrida de touros por ano, assim como um frequentador de museus faz diversas visitas anualmente. Só nos grandes recintos a tourada consegue hoje em dia números significativos de audiência; não porque o público local marque presença em força, mas porque os aficionados viajam até às praças onde podem assistir aos eventos mais publicitados. Assim, teríamos que estabelecer uma média de participações para se ter uma ideia aproximada do real número de pessoas mobilizadas (se forem 5, o número de aficionados desce imediatamente para 130 000; se forem 10, baixa para 65 000).

As verbas destinadas à compra de bilhetes para atividades tauromáquicas estão anotadas nos registos públicos referentes às despesas das autarquias. Dos alegados 650 mil espectadores, uma enorme percentagem assistiu às corridas de touros gratuitamente. Estranhamente, esses convidados dos promotores da tauromaquia, para a estatística, contaram como público.

Terá sido por o anterior Ministério da Cultura ter esgotado a sua função no cumprimento de leis, ao invés de refletir sobre o que se entende por «espetáculo artístico», que foi despromovido a Secretaria de Estado?

Se o Estado considera que um espetáculo artístico pode consistir em infligir sofrimento em animais para entretenimento público, então por que razão havemos de excluir da regulamentação as lutas de cães ou de galos? Se os critérios se baseiam no interesse do público e na receita de bilheteira, é completamente subjetivo considerar que as touradas sejam defensáveis e as lutas de cães ou de galos não o sejam.

Mas mesmo que assim não fosse, não podemos esquecer que os autos de fé não terminaram por falta de público, mas por se considerar que eram indignos e que contribuíam para a banalização da violência.

Fonte


publicado por Maluvfx às 22:05
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No reino da tolerância: só vai à tourada quem quer
Num paradigma de sociedade normal, desfrutar de um acto público de tortura de um animal é impensável. É moral e eticamente condenável tirar partido da agonia de outro ser. Através da formação e valores passados entre famílias, a sanidade implícita na postura de respeitar o bem-estar de todos os animais, humanos e não humanos, é substituída por um regime de exceção que diz: “Faremos o bem a todos, menos aos touros, que existem é para serem toureados.” Frequentemente, esta precoce programação mental a que estão sujeitos os aficionados é levada a cabo pelas suas famílias, num acto de transmissão da sua própria cultura e valores antigos. O aficionado cresce num meio onde a tortura implícita na tourada é legitimada, promovida e perpetuada, associada a valores familiares, negócios, estatuto social…

Quando as questões envolvem valores éticos e direitos fundamentais, inalienáveis e inerentes a animais sencientes (humanos e não humanos), fazê-los depender de interpretações subjectivas – como seja valorizar interesses triviais da mentalidade dominante – num relativismo cultural é inaceitável.

É por isso que fenómenos culturais tais como a excisão do clitóris nas meninas de alguns países africanos ou a lapidação das mulheres adúlteras, chocam o mundo ocidental que considera – e muito bem – que o relativismo cultural e a tradição não podem caucionar práticas que cerceiam liberdades básicas e direitos fundamentais, como sejam a integridade física, por exemplo.

Se bem nos recordarmos, a mesma questão pôs-se na altura da implementação dos novos regulamentos sobre os locais em que se pode fumar: durante toda a vida os fumadores impuseram o seu fumo aos outros; os governos dos países ocidentais foram acusados de extremismo e falta de tolerância quando decidiram proteger as vítimas dessa prática: os fumadores passivos.

Resumindo em duas frases:

-à tourada não vai só quem quer; vai quem para isso foi programado.

- não acorrer em defesa de quaisquer vítimas é um acto de cobardia, indiferença e de conivência com o crime; não de tolerância.

Fonte


publicado por Maluvfx às 08:33
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Segunda-feira, 5 de Março de 2012
Um regime democrático não é proibicionista
Claro que um regime democrático nos proíbe as práticas que podem ser lesivas para os outros. Os códigos penais estão cheios delas. Porque é preciso assegurar a defesa dos mais vulneráveis relativamente aos abusos dos mais fortes, por isso o código penal está organizado de forma a limitar a liberdade de quem maltrata, de quem rouba, de quem contamina, de quem abusa, de quem tortura.

Um regime democrático não é uma anarquia em que cada qual faz o que quer, independentemente do prejuízo que isso possa ter para os outros. Segundo as regras da democracia, a maioria determina imposições sobre a minoria. No século XXI, a maioria da população portuguesa considera que a tourada viola direitos fundamentais dos animais – cavalos e touros. Segundo as regras dos regimes democráticos, considerando que a maioria da população portuguesa quer ver esses direitos respeitados, a abolição das touradas é uma medida democrática e justa.

Um regime democrático não nos vai ditar o que vamos fazer dos nossos tempos livres; não vai obrigar-nos a ir ao teatro, por exemplo, mas vai dizer-nos o que não podemos fazer.

Resumindo: embora as preferências das maiorias não se possam impor sempre que ponham em causa os interesses de minorias, neste caso a maioria democrática coincide com obrigatoriedade ética.

O touro não sofre

Sabemos que é reprovável causar sofrimento por motivos triviais. Mas o que é facto é que o touro tem que sofrer durante o espetáculo com que se deleitam os aficionados.

Por isso parece-lhes melhor defender a ideia absurda de que um animal que sente uma mosca a picar-lhe os flancos, por uma espécie de passe de mágica, numa arena não sente ferros de 8cm de comprimento com um arpão de 4cmx2cm a enterrarem-se-lhe na carne e a dilacerarem-lhe músculos, vasos sanguíneos e nervos.

Para conferir alguma credibilidade a este absurdo, invocam muitas vezes um pseudo- estudo do porf. Illera, que obviamente não conseguiu passar pelo crivo do peer review. E como não conseguiu publicar em revistas científicas, optou por publicar as suas conclusões em revistas tauromáquicas que o acolheram de braços abertos e divulgaram até à exaustão.

Entre os argumentos pseudo-científicos frequentemente associados à alegação de que o touro não sofre, a questão da adrenalina costuma ter um papel de destaque. Dizem que a secreção de adrenalina como elemento inibidor de dor é a prova de que o touro não sofre com as agressões que sofre durante a lide. A auto-contradição é evidente: a secreção de adrenalina ocorre em momentos de claro perigo e tensão e é o mais claro indicador de que o touro está, efectivamente, a sofrer. Senão, a adrenalina não seria sequer necessária.

Puro bom senso.

A oposição à tauromaquia é uma luta da cidade contra o campo

Essa é uma falsa questão, já que não podemos falar genericamente de pessoas do campo sem estarmos a estereotipar um grupo. As pessoas do campo são tão iguais e tão diferentes como todas as outras: podem ser generosas, compassivas, inteligentes, brutas, gananciosas, violentas, egoístas, divertidas, taciturnas... podemos continuar indefinidamente, sem nunca chegar a uma conclusão de jeito.

A oposição à tauromaquia é uma luta da razão e da sensibilidade - valores transversais a todas as pessoas, indpendentemente da sua origem - contra a paixão cega das emoções fortes.

A valentia, a inteligência contra a força bruta

Há quem prove diariamente que a valentia e a inteligência são superiores à força bruta, através da literatura, da filosofia, da ciência, da tecnologia, da política, da intervenção social.

A corrida de touros está concebida de forma a que um dos lados esteja preparado para vencer e o outro condicionado para perder. Não é por acaso que as praças são redondas, que os cornos são despontados e embolados, que os toureiros aprendem as técnicas de melhor enganar o touro, que a música toca, que o público grita, que a sequência e o tamanho das bandarilhas é precisamente aquele.

Assumindo que a inteligência é a capacidade de resolver novos problemas, o touro – o tal animal irracional – é o único que a tem que usar, porque é aquele que não sabe o que o espera. Se ensinássemos o touro (sim, são capazes de aprender, como todos os outros animais, através de estímulos positivos e negativos) a apontar ao corpo e não à muleta, a não reagir às primeiras agressões e esperar que o torturador se exponha cada vez mais, a virar a cabeça de lado no momento do encontro com o forcado? E se, sobretudo, o fizéssemos sem o conhecimento prévio de toureiros e forcados? Aí o desfecho seria seguramente outro e já não seria “justo”.

Basta ver os gestos repetidos e as expressões grotescas de triunfo dos toureiros para perceber o caráter supérfluo, primitivo e inútil da necessidade de um ritual em que o homem pretende demonstrar a superioridade sobre um animal. É fácil de perceber que uma coisa destas ao invés de elevar o homem, bestializa-o.

É ainda importante considerar a própria pertinência de perpetuar um ritual primitivo em que, supostamente, se confrontam a inteligência e a força bruta. Acima de tudo, é um ritual de vaidade, supérfluo e desnecessário. Alegar que tal confronto é uma das essências da tourada é afirmar que o homem precisa de provar que é intelectualmente superior a um animal, o que é verdadeiramente absurdo.

Concluindo: houve inteligência sim, mas a montante, na construção desta sequência. Mas sabemos bem do que a inteligência sem empatia é capaz.

O touro gosta da lide, sente-se respeitado

Deve ser resultado de algum estudo de opinião em que entrevistaram os touros à saída da arena...

Este é mais um paradoxo da defesa da tauromaquia: por um lado acusam os que a ela se opõem de antropomorfizar o touro quando falam em sofrimento mas, por outro não têm qualquer pudor em afirmar que o touro sente honra, arrogância ou paixão por ser ludibriado e ferido num ambiente hostil, longe dos seus pares.

É melhor a vida de um touro de lide do que a dos bois para consumo

Nenhum mal pode ser justificável por comparação com outro mal maior.

O touro tem uma vida de rei durante 5 anos e depois sofre na arena durante 20 minutos

Deveria preocupar-nos o caráter doentio de criar animais para os sujeitar a um ritual de tortura antes de os matar. Até porque sabemos que violência é violência, qualquer que seja a vítima e não é por acaso que diversos estudos no âmbito da psicologia, demonstrem que todos os serial killers treinaram os seus dotes primeiro em animais.

É a sede de dominar e de subjugar que emana deste tipo de cultura, donde provém igualmente a violência doméstica (em que o mais forte necessita permanentemente de afirmar a sua superioridade através da submissão dos mais fracos).

Se o simples abandono de animais de estimação é consensualmente condenado pela população, por que motivo devemos aceitar que outros torturem touros, por mais bem estimados que sejam?


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publicado por Maluvfx às 12:32
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A tauromaquia foi celebrada por pintores e escritores, como Picasso e Hemingway
Goya e Picasso pintaram a tauromaquia, como pintaram o horror da guerra ou as execuções públicas. Se as suas obras e a dimensão estética que deram ao horror não servem para legitimar a guerra ou as execuções públicas, porque razão haveria de servir para justificar a tauromaquia?

De facto, alguns autores estão dentro do zeitgeist da época e outros estão à frente do seu tempo. Esse é o grande papel da arte: dar a ver outra perspetiva do mundo. William Hogarth, por exemplo, em meados do século XVIII, ilustrou bem a iniquidade da sociedade em que vivia e as consequências morais da mesma, que só vieram a ser comprovadas muito mais tarde pelas ciências que estudam o comportamento. A série The Four Stages of Cruelty é disso exemplo.

Houve de facto artistas que se posicionaram a favor das touradas, como houve outros que se manifestaram contra. Acontece que a formação moral ou ética de um artista não é relevante para avaliar a qualidade da sua obra, nem esta pode validar a sua postura ética. São coisas distintas.

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publicado por Maluvfx às 12:28
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Se comem carne, é hipocrisia serem contra as touradas, em nome da coerência
Claramente, a extrapolação é um erro.

Parece que só um vegan tem legitimidade para se pronunciar contra as touradas. Seguindo esse tipo de raciocínio, também só uma pessoa "carbono 0" se pode pronunciar sobre crimes ambientais; quem alguma vez incorreu nalguma contra-ordenação, não pode objetar ao crime. A colocação das questões no tudo ou nada acaba por redundar numa grande desonestidade intelectual porque cria impasses. Esta é uma evidente tentativa de empurrar a oposição às touradas para um estatuto que ela não tem e que é visto com preconceito por uma maioria da população.

A maioria dos portugueses, ainda que omnívora, reconhece que a tourada é uma actividade vã e injustificável.

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publicado por Maluvfx às 12:27
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O touro é um animal agressivo e foi criado especificamente para isto
Ainda que frequentemente alegado pelos aficionados, este argumento incorre numa auto- contradição. A resposta do touro numa arena é o resultado de anos de condicionamento e apuramento da espécie, não de agressão intrínseca à espécie. É precisamente pelo facto de que os touros de lide são criados para esse efeito que, mais tarde, respondem de forma programada na arena.

Desmontemos agora a alegação.

A primeira parte do argumento é uma falácia: o touro é um animal reativo, não um animal agressivo. Reage quando se sente ameaçado, o que sucede indubitavelmente em todo o processo que culmina na lide.

A segunda parte é um absurdo. Não é eticamente aceitável criar um touro com o objetivo de o torturar. Tal como um cão, ou um filho, ou uma galinha.

Criar situações de stresse extremo para provocar reacção num animal e fazer disso espetáculo é ignóbil, desumano e bárbaro. Independentemente de ser tradição ou não.

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publicado por Maluvfx às 12:25
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A tauromaquia é uma atividade económica relevante
O eventual caráter económico de uma actividade destrutiva não a legitima. Pelo contrário, demonstra como valores fundamentais se subvertem em função do dinheiro.

Mas o que é mais grave é que a tauromaquia, como actividade económica, prejudica o país. Suga subsídios europeus, estatais e municipais que podiam e deviam ser aplicados em actividades construtivas, em vez de serem esbanjados em rituais que nada criam e que exortam a violência e o embrutecimento.

Será justo continuar a subsidiar uma indústria de mero entretenimento, que promove a violência, em nome dos postos de trabalho que garante? Nós temos a agricultura de rastos, não seria antes de aplicar o esforço nessa área, transferindo essa mão de obra para onde ela é mais necessária? Essas tais pessoas que tanto amam o mundo rural não seriam bem mais úteis na produção agrícola do que na área dos espectáculos?

O tráfico de droga, as lutas de cães e de galos são também setores económicos a considerar e no entanto nenhum de nós pensaria sequer em reabilitar e regulamentar uma prática que passou a ser proscrita por razões de ordem ética.

A tauromaquia prejudica o turismo. Várias sondagens e estudos elaborados no âmbito deste tema corroboram esse prejuízo. No estudo “Valores e Atitudes face à Protecção dos Animais em Portugal”, de 2007 – levado a cabo pela Metris GfK, em associação com o Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES) do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) – foi feita a pergunta, “Em que medida pensa que, em Portugal, os animais são protegidos por lei?”, os resultados foram:

Um total de 87,1% dos consultados considera que a protecção legal dada aos animais é deficiente.

À pergunta, “Considera que a tourada deveria ser proibida por lei em Portugal?”:
50,5% dos entrevistados respondeu “Sim”
39,5% respondeu “Não”.

À pergunta, “Gostaria que o Município da cidade onde reside a declarasse uma cidade onde as actividades relacionadas com tourada não são autorizadas?”
52,4% dos entrevistados respondeu “Sim”.
36,8% respondeu “Não”

Em Março de 2007, a Associação Animal encomendou uma sondagem à CIES/ISCTE/ MetrisGfk, que foi levada a cabo no norte do país. Essa sondagem foi utilizada pelas Câmaras Municipais de Braga, Viana do Castelo, Cascais e Sintra para conhecerem a posição actual dos portugueses em relação às actividades tauromáquicas. Os respectivos autarcas procederam ao cancelamento de vários eventos tauromáquicos em função dos resultados dessa sondagem. Nela, 61,1% dos habitantes do norte do país declaram querer que as touradas sejam proibidas por lei em todo o país e 64,5% declaram querer que as cidades e vilas em que residem sejam declaradas cidades e vilas anti-touradas.

Pela Europa, num estudo realizado em 2003 em diversos países europeus, 93% dos alemães, 81% dos belgas e 82% dos suíços afirmaram ser contra a tourada.

89% dos britânicos afirma que nunca visitaria uma tourada quando estivesse em férias. (TNS Sofres, sondagem encarregada pela Franz Weber Foundation).

76% dos europeus inquiridos afirma que é errado a indústria do turismo promover uma tourada de qualquer forma. (sondagem ComRes, de Abril de 2007).

Estes dados revelam de forma objectiva que a tourada não beneficia o turismo nacional, nem a imagem de Portugal no estrangeiro. Pelo contrário, desperta o antagonismo de povos evoluídos que não desejam visitar países promotores de rituais macabros.

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publicado por Maluvfx às 12:24
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O papel das autarquias é estimular as tradições locais
Mais do que estimular tradições locais, cada autarquia deve defender os interesses dos seus munícipes. Quando o estímulo dado a tradições locais vem em prejuízo dos munícipes e da sua vontade, as autarquias estão a fazer precisamente o oposto do seu objetivo. Alocar verbas para espetáculos de que só uma minoria desfruta, em detrimento de atividades que beneficiam a generalidade dos munícipes, é um erro grosseiro de administração que viola os princípios fundamentais da responsabilidade das autarquias.

É sempre mais fácil e mais populista apelar à brutalidade e violência do que promover ações sociais, educativas, que alarguem os horizontes das populações que servem, mas as entidades públicas não podem eximir-se das suas responsabilidades. Se a barbárie faz parte da condição humana, é ao Estado que compete combatê-la.

O homem refugiou-se do mundo natural e construiu santuários onde estivesse a salvo da implacável lei do mais forte. Protegidos dos predadores e da luta diária pela sobrevivência, pudemos assim dedicar-nos à filosofia, à ciência, à arte. Mas não perdemos o espírito opressor, pelo que só mesmo um Estado de Direito nos salva do pior de nós mesmos.

Ao subsidiar e promover a tauromaquia, o Estado está a subverter o seu papel, fomentando a violência e a discriminação. Para além de provocar a discórdia e a desunião quando opta por esbanjar dinheiro público num espetáculo de sangue que cada vez mais pessoas contestam.

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publicado por Maluvfx às 12:23
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